quarta-feira, 25 de maio de 2011

Os comprimidos

Boa noite. Hoje tirei um bocadinho da minha noite tão proveitosa para falar sobre comprimidos. Sim, comprimidos, aquela forma sólida de um pó medicinal, preparado por compressão, adicionado ou não de substâncias aglutinantes. 
Actualmente, existem milhares de comprimidos: para as dores de cabeça, dores de dentes, dores de estômago, dores pélvicas, dores de joelhos, dores de pés... Enfim, hajam dores e doenças, que medicamentos não faltam! 
Todos nós já experimentámos, em determinados momentos da nossa vida, tomar um comprimido por termos alguma dor. E digam lá, não é tão bom sentirmos a dor a abandonar, leve ou subitamente, o nosso corpo? É pois!!
Sempre ouvi dizer que só damos valor à nossa saúde quando não a temos. Esta frase não deixa de ser um cliché, mas é bem verdadeira. Experimentar um tipo de dor, independentemente da sua causa, leva-nos a perder a noção do que nos rodeia, a caminhar por um túnel em direcção à escuridão, sem saber onde termina o mesmo. É como se flutuássemos por cima de águas profundas, sabendo que, a qualquer momento, podemos cair no infinito. 
É, então, nesta altura de sofrimento, que decidimos tomar um comprimido. Podem, contudo, perguntar: "Então e as pessoas que tomam comprimidos por tudo e por nada?"; eu respondo: esqueçam-nas! Dos fracos não reza a História! A História fez-se, sim, das pessoas que lutaram até ao fim e, não podendo mais, tomaram um comprimido. Esta é a perfeita analogia das pessoas que diariamente enfrentam problemas e desilusões. Das pessoas que caem constantemente. Das que sentem que uma nuvem, escura e cheia de água, está sobre elas. Das pessoas que choram de medo, de dor e de mágoa. Das que sofrem por si e pelos outros. Mas, sem dúvida, das que, perante isto, não baixam os braços, mas erguem-nos em sinal de vitória.
Não é vergonha mostrar as nossas fraquezas e pedir auxílio. Vergonhoso é sofrer em silêncio. Vergonhoso é não ter coragem de dobrar os joelhos e levantar as mãos. Vergonhoso é ter um comprimido na carteira e não o tomar. Já dizia Santo Agostinho que "enquanto houver vontade de lutar haverá esperança de vencer". 
Para que o comprimido a tomar faça o efeito desejado há que ter em conta que:
       - se tivermos de perder algo, então que seja o medo;
      - não há dor que o sono não consiga vencer, nada que a sabedoria não consiga resolver;
      - só se aprende a vencer com as derrotas;
      - não vale a pena ganhar uma batalha, mas sim a guerra;
      - o melhor é viver uma vida a lutar por algo do que viver uma vida vazia;
      - se quisermos ganhar tudo, poderemos perder tudo;
      - saber lutar, por si só, já é vencer
      - quanto maiores são as dificuldades a vencer, maior será a satisfação.
Um certo dia houve alguém que me disse que é perante as dificuldades da vida que devemos erguer a cabeça. Esta é a altura de pensarmos em nós, somente em nós, e ignorarmos as pedras que nos atiram ou os dedos que nos apontam... Esta é a hora de tomarmos o comprimido. Eu já tomei o meu. E vocês?

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