domingo, 30 de janeiro de 2011

A cebola

Hoje decidi escrever um pouco sobre a minha posição face às cebolas: não sei se gosto ou se não gosto... No fundo, gosto e não gosto!
É tão bom fazer um cozinhado, que se inicie com um óptimo refogado. Ai aquele cheirinho fantástico que percorre toda a cozinha... Mas o pior é o que acontece antes de proceder à cozedura: descascar a cebola, cortar a cebola, ... Que nojo! As lágrimas correm pela cara, as mãos ficam com um odor manifestamente desagradável, enfim... "As cebolas são horríveis", grito!
Mas, ao provar o resultado final, este mostra ser perfeito! Um sabor estonteante, um cheiro de " fazer crescer água na boca"... Anyway, é impossível não gostar!
As cebolas fazem-me recordar, sem dúvida, de algumas pessoas que um dia conheci. Refiro-me, pois, às que nem me lembro de conhecer e que apareceram de "pára-quedas" na minha vida, às que, quando as conheci, me foram totalmente indiferentes, e às que, quando conheci, odiei por qualquer motivo - ou porque não falavam comigo, ou porque "tinham a mania", ou porque eram estranhas aos meus olhos. A questão é que, por vezes, não é preciso muito para desgostarmos de alguém...
Contudo, por antagónico que possa parecer, as grandes amizades que hoje possuo são as dos meus amigos-cebola! Aqueles que detestei e ignorei inicialmente e sem os quais agora não vivo. Embora não me fizessem chorar como fazem as cebolas, o "cheiro" da sua presença ou indiferença era tão estupidamente intenso e irritante como o das cebolas...
Como não gosto de cebola crua, tenho sempre de a cozinhar para a conseguir comer. O mesmo acontece com as amizades- embora elas surjam de forma maravilhosamente inesperada, requerem sempre um tempo de cozedura para chegarem ao ponto perfeito. Trabalho? Dá algum... Não é só ligar o fogão e virar costas: é preciso verificar a intensidade do gás, mexer para não agarrar e esperar que, com o tempo, a cebola fique no ponto- nem crua, nem queimada. Nas amizades sucede o mesmo. Se não queremos uma amizade crua, então devemos fomentá-la, acendendo o fogão, mexendo a cebola para que não agarre ao tacho e esperar cuidadosamente que fique pronta.
Se dá trabalho? Dá, pois! Mas sem dúvida que vale a pena o esforço!


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. (...) O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também." 

Miguel Esteves Cardoso

Speechless

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

" And we should consider every day lost on which we have not danced at least once. And we should call every truth false which was not accompanied by at least one laugh... " Friedrich Nietzsche

domingo, 23 de janeiro de 2011

Viver de trás para a frente, por Woody Allen

«Na minha próxima vida, quero viver de trás para a frente.
Começar morto, para despachar logo o assunto.
Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa.
Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo.
E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer.
Por fim, passo nove meses flutuando num “spa” de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois – “Voilá!” – desapareço num orgasmo … »
Woody Allen

Monstro das bolachas


Num momento de nostalgia, ao visualizar episódios da saudosa Rua Sésamo, deparei-me com o Monstro das Bolachas, aquele ser azul de porte curioso, sorridente e bem-disposto, alegre e divertido e sempre disponível para comer uma ou duas bolachas (ou o pacote inteiro). Até aposto com vocês que se ele estivesse na vossa casa, e vos comesse todo o stock de bolachas, vocês não se iriam importar... Perante tanta boa disposição e bem-estar que o Monstro das Bolachas transmite, "eu quero lá saber que ele me roube as bolachas ou o quer que seja"! 
Absurdo?! Nem por isso. Eu conheço muitos "Monstros das Bolachas" e vocês também, só que não os tratamos por esse nome; simplesmente lhes chamamos de amigos!
Não falo dos conhecidos nem dos colegas. Falo, pois, dos amigos no verdadeiro e mais puro sentido da palavra. Aqueles que conversam connosco sem preconceitos, sem se importarem de serem chatos ou intrometidos, que choram connosco quando choramos e que riem quando a situação tem mesmo piada (nem que de uma piada seca se trate!). Aqueles que num jantar comem a salada que não queremos, que transportam o nosso copo de sangria pela noite dentro sem se importarem que lhe chamem de bêbedos! Aqueles que ficam na nossa casa, após uma noitada até as 6h ou uma simples noite de cinema deprimente no sofá da sala, e que se comportam como mobilia da casa. Aqueles que vemos quase todos os dias e que, ainda assim, nos conseguem surpreender com novidades e/ou antiguidades. Aqueles que a vida levou para longe e que não se esquecem de nós. Aqueles que nos ligam ou mandam mensagens, a qualquer hora do dia, só para dizer "Olá! :)". Aqueles que nos chamam nomes e chegam atrasados aos encontros, o que não nos deixa minimamente chateados. Aqueles que, discussão após discussão, gostam ainda mais de nós, e nós deles (não, não é masoquismo!). 
Pensem: com amigos assim, interessa mesmo se nos comem as bolachas todas?!

sábado, 22 de janeiro de 2011

O feijão-frade

Feijão-frade: leguminosa de vagens lisas, lineares e cilíndricas, com sementes numerosas.
Este tipo de feijão constitui a base alimentar de muitas populações rurais devido ao seu elevado valor nutritivo e à sua fácil adaptação a solos de baixa fertilidade e com períodos de seca prolongada. Igualmente conhecido pelo povo português como feijão de duas caras.
Não. Não vou falar de agricultura. O pouco tempo que joguei Farmville não me permitiu adquirir grandes conhecimentos sobre o assunto. Apetece-me falar apenas das duas caras do feijão (entenda-se: pessoas). Encarem isto como uma crítica, uma opinião ou uma pura maldicência da minha parte...

Irritam-me! Oh se me irritam. Ora vai uma palmadinha nas costas, ora vai uma facadinha. Entremeamos com um sorrisinho na frente e um revirar de olhos, ao voltar a cara para o lado. Juntamos uma pitada de cinismo qb et voilá! Pode servir-se o feijão de duas caras! 
 Já dizia Oscar Wilde: " Ah!! Não me diga que concorda comigo! Quando as pessoas concordam comigo tenho sempre a impressão de que estou errado". Não quero, de todo, viciar a questão mas, efectivamente, concordo plenamente com Oscar Wilde. Quem nunca desejou que as suas ideias fossem questionadas, que os seus métodos fossem postos à prova e que fosse desafiado a fazer diferente e melhor? Eu já. Desejo isso para ontem e para amanhã. Como posso crescer sem lutas, montanhas a escalar, obstáculos por saltar? Como posso eu crescer com sorrisos amarelos à minha volta e pessoas que se comprometem a acompanhar-me na estrada da vida e que, perante um caminho mais estreito, se recusem a passá-lo para o percorrer no mesmo passeio que eu? Parece-me uma tarefa quase impossível... Isto permite-me dizer que não, não gosto dos feijões verdes que nos rodeiam. Estar com um feijão de duas caras é como comer um bitoque sem batatas fritas... É impensável!
Albert Einstein, um dia, referiu que o mundo não está ameaçado pelas pessoas más, mas sim por aquelas que permitem a maldade. Eu já me decidi: não volto a comer feijão-frade. E tu?

Desabafo n.º1

3 cafés. Phones quase no máximo. Um computador à frente. Vontade de escrever. Uma página em branco. Num dia normal poderia aproveitar para pôr o estudo em dia. Mas não. A música hoje leva-me para outras paragens, que em nada dizem respeito ao Direito. Penso em mil e uma coisas. Imagens passam diante dos meus olhos, sentimentos pulam da minha alma. Mas uma coisa permanece: um pensamento que me tem "atormentado" nestes dias. Passa-se a vida de lamentos em lamentos. Grito um "ai...", suspiro um "ui...". Nada parece bem, tudo parece mal. Se devo levantar cedo, porque tenho afazeres de importância, está mal! - "Ai que a minha cama não me larga!". Se tenho de deitar tarde (pelos mesmos afazeres), está mal! - "Ui que a minha cama está a chamar-me!". Se tenho peixe ao almoço, apetece-me carne. Ao jantar há carne e não tenho fome. No trânsito chamo nomes ao condutor da frente (de tão lento que é) e ignoro a paciência do condutor que está mesmo atrás de mim. Antes de um exame penso: "Ai meu Deus, eu só quero um 10". Quando recebo o exame, e me deparo com um 12, barafusto porque só tive 12.
Já vai sendo tempo de mudar. Tempo de pensar positivo e de me alegrar nas pequenas coisas. "Pequenas coisas que faltam na vida tornam as grandes incompletas", oiço. Se não começamos por mudar no mínimo que seja, por lutar pelas pequenas grandes coisas, então podemos arrumar as botas e guardar as armas- terminámos o combate! Mas não! Recuso-me. Não me conformo com a estagnação. É tempo de parar de andarmos curvados a fazer figas para que tudo nos corra bem, sem nada fazermos por isso. É tempo de levantar a cabeça e marchar!

Dúvidas (não existenciais)

Como ser humano que sou, cheio de dúvidas e ãnsias de conhecer o desconhecido, vou partilhar algumas das questões que, embora não me tirem o sono, me deixam a pensar duas vezes... Há muito que deixei a idade dos porquês, mas, manifestamente, há coisas que não percebo. Ora, então, deixem-me perguntar-vos:

         - Porque é que, num hipermercado, a fila do lado anda sempre mais depressa do que a minha? 
         - Porque é que nas melhores pastelarias do país são sempre indivíduos do sexo masculino que atendem ao público?
         - Porque é que, quando um pão com manteiga cai, o lado que tem manteiga é o lado que cai no chão?
         - Porque é que quando acordo com soluços tenho soluços no resto do dia?
         - Porque é que os pijamas têm bolsos?
         - Porque é que, quando durmo muito, acordo com sono? 
         - Porque é que, quando ligo para um número errado, este nunca está ocupado?
         - Porque é que num exame sai sempre a parte da matéria que não é estudada?


Observação: Continuo sem saber de onde vem o fiambre da perna extra mas, como ignorância é felicidade (por vezes, claro!), pretendo continuar sem saber...

"Não existe nada tão comovente - nem mesmo actos de amor ou ódio - como a descoberta de que não se está sozinho"
Anónimo

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os cinco minutos da minha vida

Quem é que nunca teve os seus cinco minutos? Cinco minutos de fama, cinco minutos de paixão, cinco minutos de intensa dor, cinco minutos de alegria. Não falo, pois, de uns escassos trezentos segundos que são esquecidos nos trezentos seguntos seguintes. Refiro-me ao que pode acontecer durante os poderosos cinco minutos que mudam uma vida: aquela pessoa que se conhece e que nos deixa, de imediato, a flutuar em claras nuvens, encontrar um amigo de longa data numa qualquer rua da cidade, recordando velhos tempos idos, a chamada de alguém que nos convida para beber um café, uma mensagem de alguém que pensamos ser um total desconhecido e que, minutos depois, percebemos ser um antigo admirador que, após tantos anos, não se esqueceu de nós.
Saltando os cinco minutos de azar, que o dia hoje não é para isso, entendo que é às pequenas e boas coisas da vida que nos devemos agarrar. Se soubessemos que apenas teriamos cinco minutos de vida o que fariamos? Chorávamos até a hora H ou aproveitávamos ao máximo os nossos trezentos segundos, de forma a torná-los inesquecíveis? Negativismos à parte, interessa agarrar o presente e aproveitá-lo "como se não houvesse amanhã".
Porque o tempo é escasso, e nem sempre as oportunidades espreitam na esquina mais próxima, devemos viver a vida não dia a dia, mas sim minuto a minuto. Como costumo dizer, interessa aproveitar ao máximo enquanto tudo corre pelo melhor porque, depois, poderá haver uma reviravolta e aí, é tarde demais...

Em jeito de despedida, deixo uma música que vem de encontro à minha primeira pseudo-sentença.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

" A arte de estar atento à vida consiste em ver para lá das aparências, em descobrir o encanto que habita em cada coisa " Anselm Grun